1.7.13

Carta-oculta

Houve um projeto de dedicação a cartas a pessoas sorteadas. Algumas breves, algumas claras. Eis-me.

Minha querida,
Felicidade enorme ter você como aluna. Fez a vida que nos encontrássemos nesta estrada. É apenas um momento, você verá. Não temos muito tempo para este encontro. Digo a você que, em principal, não é o encontro entre professor e o aluno. É a revelação que ocorre entre o conhecedor e o conhecimento. Esta é a principal elevação.
São muitos os traços de desigualdade que nos une. Muitas as histórias que não são iguais. Estamos aqui apesar dos desencontros e dissabores. Apesar de toda a degradação que cultivamos em nosso coração. Digo isso por perceber o mundo, muitas vezes, desconexo, nos levando a acreditar que o melhor argumento de defesa de nossas vidas é o rancor, o ódio. A língua ferina. É equivocado, eu sei, pensar que para responder faz-se necessário treinar astuciosamente as fruições serpentinas da resposta atravessada, da dica atrevida, da picada do destrato e, até da falta de educação.
Não é assim, não fazemos nossa história nas ações de supremacia aos outros. Sempre haverá quem nos dê pesos e medidas, sempre estão presentes as pessoas de olhar suspeito, galgando nas nossas ações as críticas mais ferozes, atrozes, mordazes. Mas, minha querida, não são estes aqueles a quem deve voltar-lhe a face e observar a resposta. A fala destas almas diz respeito, apenas, das escolhas que deixaram de fazer quando lhes foi dado o tempo de fazê-las. Agora, nutrem-se das experiências alheias, agarram-se nas opções de outrem para medirem o entusiasmo. Apenas comento que o “entusiasmo” dessas pessoas vis não é o de ver a realização espelhada nos outros; a idéia colhida é transformar a assunção alheia em derrapada no lodo. Como não fizeram suas partes nos momentos nos quais deveriam agora desejam, de bom grado, que aqueles a quem observam derrapem e deixem de ter os ganhos merecidos.
“Não saber é ter coragem”. Seguir adiante mesmo sem ter, ao certo, os acontecimentos, é de ousadia daqueles que se dispõe a construírem as histórias mais originais. Demonstrar com seus gestos e atitudes o tamanho de ser original requer não adequar-se ao risco do momento e explorar suas habilidades para além do visível. Nestas atitudes existe o destemor de aparecer, de ser singular.
Conte com os amigos leais, as amizades que lhe fazem lembrar-se de sua originalidade. São aqueles que, mesmo quando não compreendem seus gestos, gostos, amores e rancores, sabem dar um passo para trás e contemplá-la, considerando-a, apesar do aparente “disparate”, maravilhosa.
Ser Maravilhosa é perceber-se exuberante e única. Não deixe essa sensação genuína desprender-se da sua história. Crie-a com afinco. Cultive a beleza que rege seu coração e faça-a manto do seu reino. Beleza. É meu segundo voto que dedico para a sua vida.
Deixo aqui o meu registro de felicidade em partilhar, por alguns minutos, um pedacinho da sua história na minha existência.

Beijo-abraço-carinho da professora.

10.6.12



Abraçado ao próprio seio, remexo minha agilidade de crescimento. Trabalho nos alimentos, no saneamento, nos cuidados médicos. Devo ter agora desperto em mim a multiplicidade de escolhas breves. Trabalhar na matricidade solícita. Ser mãe de si própria, ser mãe-amante despojada de saturar todos os desejos. O lar tem esse alimento: o desejo de tratar e partilhar o que nos fazemos responsáveis. Iluminar a luz da lua. Tal tradução trás traço de solidão. Nestas próprias colocações o silêncio reúne seu fervor e trabalha, ininterrupto, em pensamentos avulsos. Há ocasiões que são as horas que avançam na mudez do cuidado diário e caminho entre uma feitura e a seguinte e perseguido em silêncio. A mudez da ocupação com o próprio evento.
É como o registro em um labirinto mental, onde nem tudo tem sentido próprio. Em criações as quais devem concluir-se em si mesma, sem importâncias às vistas dos passantes.Porém, há o cultivo de um magnetismo vibrante, amoroso e cuidadoso. O dia deve ser criado assim: entre sua materialidade espiritual. Este aspecto existem no compromisso com os objetos, não com a propriedade, mas com o seu cuidado. Tratar para amadurecer, fazer crescer. Tratar pelo amor ao cuidado.
Essa função deve trazer destaque ao movimento interno em nós mesmos. Não devemos nos desligar de sua importância. Não podemos aplicá-lo ao pedestal de honra, contudo deve-se alinhavar o agradecimento também ao próprio serviço. 
Obrigada mãe, por me fazer crescer. Obrigada mãos por trabalhar hoje através do progresso do dia. As mãos hoje percorrem o caminho que, durante toda minha vida, minha amada mãe realizou. Mãe que fez com cuidado para garantir minha idoneidade, mãos que firmam laços copiando o passado aprendido. 

9.6.11



Há bem nesta casa, tomadas de cores e acentos fugazes, expansões criativa em cada detalhe. O branco se assombra ao perceber a sua fuga, ao denunciarmos a ele a condição de primário e dançarmos juntos com esta cor ortodoxa e firme as tantas outras que penetram esta Via. O Lar me responde que para habitá-lo é preciso criar em conjuto. Estão presentes no traço o tempo do meu ventre nascido e a inovação da amizade florida.